sexta-feira, 17 de outubro de 2014
O FUTEBOL NÃO EXPLICA O MUNDO MAS... LEMBRA MUITA COISA. (de: Filipe Guerra)
«Correram mundo as imagens dos diversos incidentes ocorridos ontem no jogo de futebol entre a Sérvia e a Albânia. Ganhando destaque a imagem do jogador Sérvio que agarra uma bandeira da “Grande Albânia” transportada por um drone que sobrevoava o relvado.
Se algum mérito se pode encontrar naquela provocação, é que ela lembrou a tensão que se mantém na região. Certamente o futebol não explica o mundo, mas por vezes pode expressar histórias, realidades e sentimentos que se procuram ocultar.
A bandeira transportada pelo drone era a da "Grande Albânia". A bandeira de um projecto político delirante e chauvinista que engloba não só o território do estado albanês mas também o Kosovo, alguns territórios do Montenegro, da Grécia e até da Macedónia. Mas claro, ao caso, a grande provocação para os sérvios é mesmo a anexação do Kosovo.
Para o povo sérvio, a manutenção do território do Kosovo no seu Estado não é uma embirração descontextualizada. O Kosovo é o berço da sua nacionalidade.
Os sérvios sendo um povo eslavo, proveniente da Europa Central, encontraram na região da sérvia a sua pátria, sendo que em 1389, na Batalha de Kosovo, de Tzar Lazar, foram brutalmente massacradas as suas forças(numa batalha absolutamente desproporcional) frente ao exército otomano. No Kosovo, nessa data, numa batalha perdida, forjou-se uma identidade ainda que se tenha perdido a independência.
Seriam necessários séculos até o Kosovo ser de novo integrado na Sérvia e depois na República Socialista Federal da Jugoslávia(a única solução política que garantiu unidade aos povos da região, independência e a melhoria generalizada das condições de vida).
Chegados aos trágicos finais do século XX, a Jugoslávia desintegra-se em sucessivas guerras, pelas mãos de crescentes tensões instigadas e fomentadas pelas potências capitalistas estrangeiras como EUA ou a Alemanha(entre outras ainda, como o Vaticano ou a Turquia). As pressões e promessas externas com os chauvinismos mais reaccionários(muitos deles, legítimos herdeiros da ocupação nazi nos balcãs e dos facciosismos religiosos) destruíram um país e a paz. Neste contexto, no Kosovo, surge o UCK, "exército de libertação do Kosovo" de origem albanesa, armado, treinado e financiado infinitamente pelas habituais forças sinistras que sempre se movimentam nas guerras do império.
Como parte substancial da população residente na região kosovar, e demograficamente crescente, era de origem albanesa, o UCK encontrou aí os meios e condições para levar a sua avante. Uma limpeza étnica, enquadrada nos ataques da NATO/EUA à ainda então Jugoslávia(em 1999 sob a acusação de esta estar a atacar o Kosovo…), populações inteiras de origem sérvia foram obrigadas a fugir das suas residências, símbolos nacionais e religiosos sérvio foram destruídos, centenas de sérvios assassinados e raptados, sendo que os seus raptos em muitos casos serviram para alimentar o tráfico de órgãos que financiava o UCK e o seu líder, que mais tarde seria líder do Kosovo, Hashim Tachi (acusado de todaa sorte de crimes de guerra).
Porque é o Kosovo tão importante para tanta gente
Camp Bondsteel
Com a declaração de independência do Kosovo em 2008, reconhecida imediatamente pelos EUA e Albânia e logo secundados pelos seus aliados habituais(onde Portugal tristemente costuma figurar). A situação económica e social para a sobrevivente minoria sérvia degrada-se ainda mais, sob constantes violências, ameaças e discriminações de toda a ordem, esta minoria refugia-se em pequenos núcleos que procuram ainda hoje resistir.
Entretanto, a Albânia e o seu governo chauvinista mas servil ao imperialismo americano e europeu continua o seu projecto de agregação do Kosovo à tal "Grande Albânia". Não por acaso, quem foi ontem detido em Belgrado e acusado de dirigir o tal drone, era precisamente o irmão do actual primeiro-ministro.
No Kosovo, as riquezas naturais e industriais da região desenvolvidas e potenciadas durante a Jugoslávia, com contributos de fundos e trabalhadores de todas as nacionalidades que compunham a Jugoslávia, foram saqueadas e privatizadas aos participantes no ataque à Jugoslávia e à Sérvia. Mais, no Kosovo, aproveitando o seu contexto geo-estratégico, foi edificado o Camp Bondsteel. Uma gigantesca base militar americana de 955 hectares, sede da NATO e da KFOR na região, que serve não só para a reclusão de todo o tipo de suspeitos(tal como Guantanamo) mas também como garante da força militar do imperialismo americano na região.
Hoje o Kosovo é um símbolo perfeito, em plena Europa, na tal “Democrática Europa”, do que foi o imperialismo na sua acção e desenvolvimento, do seu trajecto ao longo do século XX, da barbárie mais miserável que ele representa sobre os povos, na sua História, cultura e riquezas. E no caso Kosovar, dos seus reais objectivos de controlo de recursos e riquezas, âmago do capitalismo. »
Texto extraído do blog MANIFESTO 74, da autoria de Filipe Guerra.
Etiquetas:
a foder o imperialismo
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