segunda-feira, 24 de maio de 2010

«'Punk rock' está vivo e vai ao estádio para apoiar o St. Pauli»



«A próxima Bundesliga será agitada por um pequeno clube com uma atitude diferente: São 11 milhões e todos antifascistas

Em 2002, os adeptos do St. Pauli revoltaram-se. No estádio Millerntor estava exposta uma publicidade à revista masculina Maxim que, diziam, depreciava as mulheres e era sexista. De imediato a direcção mandou tirar a publicidade que ofendia o maior grupo de adeptos femininos da Alemanha. De esquerda, anti-racista, antifascista e anti-sexista, assim é o St. Pauli, clube que acabou de ascender ao principal escalão do futebol alemão e que pretende "agitar a Bundesliga".
O clube da cidade de Hamburgo tornou-se de culto a partir da segunda metade dos anos 80, quando o facto de estar localizado perto da Reeperbahn , a zona de prostituição de Hamburgo, atraiu para as suas fileiras aqueles que seguiam uma atitude punk, tornando-se um símbolo para todo o mundo - o St. Pauli tem mais de 200 grupos de adeptos espalhados globalmente. Muitos dos seus adeptos eram provenientes da Hafenstrasse, uma rua com quase todos os prédios ocupados por jovens desempregados que viviam do seguro social, activistas vegetarianos, músicos, promotores de concertos ou artistas. Um dos guarda-redes do clube era habitante de uma dessas casas.
Ligado aos adeptos veio uma das medidas mais emblemáticas do clube: banir do seu estádio toda e qualquer manifestação de extrema-direita. Isto numa altura em que proliferavam as claques liga- das a este tipo de movimentos. Aliás, o nome do estádio foi alterado nos anos 70, depois de se descobrir que Wilhem Koch, que dava nome à arena, pertenceu ao partido nazi.
Oito anos fora da primeira divisão não esmoreceram o apoio deste clube. Mesmo quando a equipa estava na terceira divisão, a média de assistência do Millerntor era de 15 mil pagantes, muito acima da média de 200 pagantes das outras equipas.
A diferença sempre moveu este clube que nunca teve medo de ir mais além. O seu presidente, Corny Littman, é assumidamente homossexual e, durante os anos 90, foi um travesti a assumir o leme do clube. A equipa já foi patrocinada por uma loja de artigos eróticos e o seu site vende preservativos com o símbolo do clube.
E se são os punks e a sua atitude que movem o clube, nada como um símbolo à altura. A bandeira pirata, com a caveira e ossos cruzados, foi adoptada como emblema não oficial pelos adeptos do clube. Esta imagem foi aproveitada pela comunicação social, que tratou de colocar alcunhas aos adeptos: desde Freibeuter der Liga (Piratas da Liga) até Freudenhaus der Liga (Bordel da Liga), inspirados, respectivamente, no símbolo e local onde o clube tem a sua sede.
Se isto não é punk que chegue, o próprio estilo de música fez o favor de se assumir como adepto do St. Pauli. A entrada dos jogadores em campo é acompanhada do tema Hells Bells, da banda de hard rock australiana AC/DC, que versa sobre trovões, ciclones e sobre não poupar vidas no campo de batalha. Já os golos são festejados ao som de outra música rock, Song 2, dos Blur. Entre os fãs famosos do clube encontram-se bandas como os americanos Bad Religion e Asian Dub Foundation, ou os noruegueses Turbonegro. Isto sem contar com o vocalista dos alemães KMFDM, Sacha Konietzko, ou dos ingleses Sisters of Mercy, Andrew Eldritch, que na tourné de 2006 tocou com uma camisola do St. Pauli vestida. Os próprios Bad Religion jogaram contra a terceira equipa do St. Pauli num torneio de beneficência.
Em ano de centenário do clube, as camisolas castanhas (e quantos clubes conhece que usem esta cor?) vão invadir as bancadas da Bundesliga. Os adeptos prometem apoio incansável e festa em todos os sítios a que vão. "Agora temos a hipótese de jogar com o Bayern de Munique. Isso, para nós, é como jogar a Liga dos Campeões", dizem.»
Sacado de: http://dn.sapo.pt/desporto/interior.aspx?content_id=1574981

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